31 maio 2007

Conto: Viver achando

Era uma manhã fria, o sol que acabara de nascer não aquecia e tão pouco iluminava o hospital que acolhia um certo Sr. chamado Ernest.

Sozinho e sem família, suas histórias eram apenas lembranças dentro de um corpo imobilizado e plantado numa cama de hospital. Já não conseguia chorar. O médico tinha dado a sentença; câncer; maligno e em estágio final. Ernest aguardava apenas que sua vida secasse como uma folha que se solta da árvore.

Achava que não valia a pena mais lutar, que maldita era a vida, que tudo não passava de desperdiço de tempo. Como se a gente fosse uma bactéria em proporção ao Universo, nascendo, vivendo, e rapidamente morrendo sem saber o por quê. Esperar o fim preso às lembranças era a única maneira de ganhar esses últimos minutos tristes.

Lembrou, e acreditava que quando menino era mais feliz, quando jovem um pouco triste, porém, mais inteligente, e quando adulto simples e apático. Mas duvidava se não era justamente o contrário, já não tinha mais certeza. Pois também concluiu que tudo isso podia ser independente da sua vontade, pois o meio podia ter influenciado sua personalidade, suas ações e até o sentido de sua vida... Até o que estava pensando agora! Talvez até influenciado pela tristeza do seu premeditado fim. E começou a pensar em voz alta:

_ Que importância tem isso? Eu vou morrer agora! Estudei, trabalhei... e nada? E seu eu tivesse descoberto a cura para minha doença? Ah... Com certeza haveria outra e eu morreria da mesma maneira. A gente vive somente achando. Achamos o que é a vida, de onde viemos, para onde vamos, achamos o que é melhor o que é pior, achamos o que é certo e errado, achamos o que é racional e o que não é. Eu também sempre fui assim... Sempre achando, achando e achando. E de tanto achar, nunca achei nada!

Poucos minutos depois, ouvia-se apenas um som uníssono e contínuo som no quarto. Era a máquina que marcava os batimentos cardíacos.